A cirurgia para a retirada da tireoide chama-se tireoidectomia, e ela pode ser parcial ou total de acordo com o estadiamento e a história clínica do paciente.
Normalmente, quando se pensa no tratamento de câncer, imagina-se o paciente sendo submetido à cirurgia e a longas e árduas sessões de quimioterapia e radioterapia. No caso do câncer de tireoide, o tratamento se baseia principalmente na cirurgia e na radioiodoterapia (administrada oralmente), quando indicada. A cirurgia sempre consiste na retirada parcial ou total da glândula, muitas vezes associada à retirada de tecidos acometidos por metástases. É um procedimento complexo que exige do cirurgião muita habilidade e movimentos finos e precisos, pois a região tem diversas estruturas delicadas que são essenciais para o funcionamento normal do corpo humano (“nervo da voz”, pequenas glândulas que regulam o metabolismo do cálcio no corpo, ampla vascularização etc.).
Devido à complexidade da cirurgia e do tratamento como um todo, recomenda-se que o paciente seja sempre tratado por especialistas com muita experiência na área. Nos casos em que há fatores complicadores adicionais, como, por exemplo, tireoides de volume muito aumentado, câncer com ou sem metástases, bócio intratorácico etc., a incidência de complicações aumenta muito quando o paciente recorre a médicos não afeitos ao assunto.
Possíveis complicações de tireoidectomias
A probabilidade de ocorrência de complicações irá depender de diversos fatores, como o organismo do paciente, o estadiamento de sua doença, a habilidade do cirurgião etc. De um modo geral, a cirurgia da tireoide evolui bem, com raras complicações definitivas, mas alguns detalhes específicos de cada caso devem ser esclarecidos aos pacientes individualmente.
É importante lembrar que toda cirurgia, até mesmo a mais simples que se possa imaginar, apresenta riscos e complicações possíveis que vão desde pequenos aborrecimentos até sequelas permanentes e óbito. O simples ato anestésico já apresenta um risco per si, que somado ao trauma cirúrgico (uma incisão regrada, ainda que com um bisturi, é uma agressão ao organismo) e a outras variáveis (idade, pressão alta, diabetes, asma, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, tabagismo etc.), resulta em um procedimento com um risco calculado que deve ser discutido em termos de complicações possíveis e benefícios esperados. Devemos observar que tais complicações são previstas na Literatura Médica mundial e são inerentes aos procedimentos cirúrgicos. Daí a importância em se escolher um especialista que tenha um bom histórico de tratamentos prévios e muita experiência, objetivando minimizar a incidência de tais eventos.
Na especialidade de cirurgia de cabeça e pescoço, as complicações mais frequentes são disfonia, hipoparatireoidismo, hematoma cervical, insuficiência respiratória com ou sem a necessidade de traqueostomia, hemorragia, necessidade de toracotomia por sangramento intratorácico, lesão de nervos etc. Tais complicações podem ser temporárias ou permanentes e, ainda, inadvertidas ou propositais (por exemplo, quando se retira uma estrutura nobre por invasão de um câncer).
Neste contexto, é importante observar que o que é possível nem sempre é provável. Assim, as complicações relatadas são parte de tudo que é possível acontecer, mas que, felizmente, são acontecimentos pouco frequentes e que normalmente estão associados a distúrbios temporários ou com recuperação satisfatória ao longo do tempo.
Hematoma Cervical
É uma complicação que pode representar um risco à vida do paciente. Apesar da grande preocupação do médico para que não haja sangramento no pós-operatório, pode ocorrer um acúmulo de sangue no local operado (hematoma), podendo levar à dor e dificuldade de respirar. Essa é uma condição que tem que ser avaliada imediatamente pelo cirurgião e que pode levar o paciente a ser reoperado em caráter de urgência.
Disfonia
É a rouquidão decorrente de uma debilidade da movimentação da prega vocal (“nervo da voz”). Quando ocorre, geralmente é temporária, voltando ao normal em poucos dias ou semanas. Depende muito da manipulação dos nervos e da dificuldade da cirurgia. Em casos extremos, quando há lesão bilateral dos nervos laríngeos recorrentes, o paciente fica sem a mobilidade bilateral das pregas vocais.
Hipoparatireoidismo
O metabolismo do cálcio no corpo humano se faz através de quatro pequenas glândulas presentes atrás dos lobos tireoidianos, duas à esquerda e duas à direita. Seu tamanho usual é de aproximadamente 03 mm cada uma. No processo de retirada da tireoide e de tecidos acometidos, pode ocorrer a retirada dessas glândulas ou mesmo o comprometimento de sua vascularização, levando a um déficit de sua função. Tal situação leva a uma queda nos níveis de cálcio no sangue. Para manter os níveis séricos adequados, faz-se necessária a administração exógena do cálcio.
Cicatriz
Todo corte sobre a pele produz uma cicatriz. Contudo, dificilmente as cicatrizes de tireoidectomia produzem marcas com mau resultado estético e, geralmente, são discretas. O tamanho da incisão cirúrgica varia entre 3 a 15 cm, dependendo do tamanho da tireoide, aspectos anatômicos do paciente, tipo de cirurgia e da experiência do cirurgião.
A exposição solar diretamente sobre a incisão deve ser evitada por um período de até dois anos após a cirurgia. É recomendável o uso de protetores solares (mínimo FPS 30) com o objetivo de se maximizar o resultado estético da cicatriz.
Preparativos para a cirurgia
Pré-operatório: é recomendável não tomar qualquer medicação com função anticoagulante ou de antiagregação plaquetária (ácido acetilsalicílico – AAS, warfarina, ginkgo biloba etc.) por duas semanas antes da cirurgia, pois pode haver aumento do sangramento durante a operação.
O jejum é de, no mínimo, 08 horas.
Tipo de anestesia
Anestesia geral.
Tempo de Internação Hospitalar
É claro que diversos fatores influenciam no tempo de internação, como tipo de cirurgia, complicações e evolução pós-operatória. Na maioria dos casos os pacientes recebem alta entre um e dois dias após a cirurgia.
Dreno
O local que foi operado produz uma secreção sanguinolenta que é retirada por um mecanismo de aspiração por “pressão negativa”. Este dreno, geralmente, está localizado abaixo da incisão cirúrgica e permanece até o momento da alta do paciente. Quando retirado, é normal que fique saindo um pouco de secreção residual pelo orifício que ele deixou, secreção esta que vai diminuindo progressivamente até o orifício fechar sozinho, o que ocorre em menos de uma semana. Enquanto isso, um curativo com gaze e micropore deve ocluir o local. Este curativo deve ser trocado quando ficar sujo de sangue, no mínimo uma vez por dia. Apenas quando secar o local da secreção é que a ferida poderá ser deixada aberta.
Pós-operatório: a cicatriz geralmente é discreta, mas para melhor resultado estético, o ideal é evitar a exposição solar sobre a região por até dois anos após a cirurgia.
Retorno ao consultório
O retorno para avaliação pós-operatória ocorre entre 7 e 10 dias.
Pontos
Os pontos normalmente são retirados entre 7 a 10 dias após a cirurgia. Alguns tipos de suturas utilizam fios absorvíveis e não precisam ser retirados.
Alimentação
Não há restrições alimentares específicas para a cirurgia de tireoide. O paciente pode sentir um pouco de dor ao engolir ou um incômodo na garganta, recomendando-se uma dieta leve e sintomáticos. No dia seguinte, está liberada uma dieta geral, respeitando-se as restrições de antes da cirurgia, como dieta para diabéticos e hipertensos.
Restrições
A principal restrição no pós-operatório é quanto ao esforço físico. Deve-se evitar atividades como carregar peso, ginástica, correr ou afazeres domésticos que exijam mais esforço. Este cuidado visa minimizar a chance de um possível sangramento no sítio cirúrgico. Isto não quer dizer que haja necessidade de repouso absoluto. É permitido andar, subir escadas, desde que com moderação. O paciente pode movimentar o pescoço já nos primeiros dias depois da cirurgia, mas deve evitar traumas na região.
Para esclarecimentos e informações complementares frente às particularidades de cada caso, procure um médico especialista da sua confiança.
Dr. Rubens Kenji Aisawa
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